No início dos anos 70, mais precisamente em 1972, uma raça alienígena enviou para nosso planeta um de seus representantes, ainda na forma de um embrião, para se desenvolver, crescer e conviver, a partir daquela geração, de modo a conhecer nossos costumes e hábitos, mantendo sempre contato com a "nave-mãe", para assim poderem entender melhor nosso estilo de vida. A idéia inicial era permanecer aqui durante muitas e muitas gerações, já que essa é uma raça que possui grande longevidade, ou seja, vive por séculos.
Assim sendo, nosso amigo extraterrestre, nasceu e cresceu nos anos 70, onde vivenciou o surgimento das discotecas, o contagiante ritmo “disco”, conheceu o bom rock da época e também as inusitadas canções do estilo brega. Como era uma época complicada, pois o país escolhido para essa missão foi o nosso querido Brasil e estávamos vivendo um período de regime militar, inclusive com censura sobre todos os programas de TV, músicas, livros, cinema, etc, ele ficou um pouco assustado com toda aquela situação. Mas, como era ainda uma criança e sua infância foi bem pura e divertida, ele até que considerou aquele um tempo bom.
Quando entrou nos anos 80, começou uma tal de New Wave, um estilo musical aliado a um modo de vestir diferente. Havia muito gel com glitter (purpurina), penteados meio que “futuristas” (pelo menos para nós terráqueos) e na música, era uma batida meio repetitiva, porém marcante e contagiante, onde a turma dançava com pulinhos jogando uma das pernas para trás. Estranho mas legal. Também começava a ganhar força o chamado Rock Brasil, que aos poucos se desgarrava da censura e mostrava diversos artistas e abordagens nas letras os quais, junto com o New Wave, nosso alienígena achou bem interessante e curtiu.
Mas, no cenário global, tinha uma tal de “Guerra Fria”, entre duas potências na época, que eram Estados Unidos e União Soviética. Viviam as turras e isso causava um grande temor, por conta da possibilidade de uma guerra nuclear, já que ambas as nações possuíam um vasto arsenal atômico. Felizmente, essa pressão toda diminuiu, depois da queda do famoso Muro de Berlim, que separava a cidade alemã de Berlim em duas partes - Berlim ocidental, pertencente a Alemanha Ocidental, capitalista e Berlim Oriental, pertencente a Alemanha Oriental, que era socialista. Ninguém podia atravessar aquele muro, do lado oriental para o ocidental, sob risco de ser fuzilado. A União Soviética era a grande dominadora local e responsável por essa regra. Mas, com a queda desse muro, as “Alemanhas” se reunificaram e a União Soviética foi perdendo força, ao ponto de por um fim nas ameaças da “Guerra Fria”. Tanto que já no início da década seguinte a União Soviética acabou.
Com o início dos anos 90, além dessa “esfriada” nos ânimos da política global, também surgiu uma geração musical muito boa, de bom rock, pesado, de melodias simples, porém criativo, do jeito que nosso simpático “et” gostava. E isso fez ele acreditar que dali para frente, as coisas ficariam bem melhores.
Mas logo de cara, começou um papo no noticiário sobre um tal buraco na camada de ozônio, que é aquela que filtra os raios ultravioleta do nosso Sol, nos protegendo da radiação. Isso por conta do uso de gases refrigerantes e aerossois em geral. Dessa forma, surgiu um novo risco: contrair câncer de pele, por conta dos raios solares! E não parou por aí! Também surgiu um novo alerta, sobre um tal de aquecimento global e consequente “efeito estufa”. Basicamente era o acúmulo de gases na atmosfera, que ia acabar, durante um certo tempo, retendo o calor aqui na superfície do planeta e, como consequência, as geleiras iam derreter e com, o tempo, viraríamos um grande deserto. E o medo voltou a tomar conta de nosso “amigo das estrelas”.
Aí, chegou o tão esperado século XXI, chegaram os sonhados “anos 2000”! Ainda com todo aquele temor surgido na década anterior, nosso aventureiro interplanetário nem imaginava que poderia ficar pior. Mas ficou! Começou uma onda chamada de “politicamente correto”, de “cancelamento”, onde muita coisa que era natural, espontânea, até inocente, começou a se tornar objeto de troca de farpas, brigas, conflitos, agressões verbais e físicas, processos judiciais e, o pior, de forma velada e na “surdina”, o fantasma da censura votava a rondar as imediações, só que agora era uma coisa espalhada em todo o planeta.
A gota d´água disso tudo, foi quando ele viu alguns programas que ele assistia desde criança, serem cancelados. Primeiro, um desenho chamado Tom & Jerry, onde um gatinho vivia tentando de todo o jeito capturar um ratinho. Esse desenho teve vários episódios censurados, por SUPOSTAMENTE apresentar conteúdo violento, inadequado para crianças.
Depois, um outro desenho, chamado Pepe Le Gambá, que contava as frustradas tentativas de um gambazinho de sotaque francês, em conquistar uma gatinha, chamada Penélope, após um pouco de tinta branca cair em seu dorso, fazendo com que Pepe pensasse que ela fosse uma fêmea gambá. Logo, mais um desenho, que também havia feito parte de sua infância e ele adorava, foi sumariamente cancelado, não mais exibido, sem produção de novos episódios, proibido totalmente, sob a acusação de estimular práticas de assédio sexual e a cultura do estupro.
Por fim, para dar cabo totalmente de sua paciência e esperança com nosso mundo, surgiu um movimento contra Dona Clotilde, a famosa Bruxa do 71, do seriado Chaves, um programa mexicano do início dos anos 70, tal qual nosso amigo, movimento esse pedindo o “cancelamento” da “bruxa”, só porque nos episódios ela tentava de todas as maneiras conseguir um “chamego” com o Seu Madruga, um camarada, malandrão mas gente boa, que morava na mesma vila que ela.
Depois que ele viu esse verdadeiro “tribunal da inquisição”, condenar a inocente “Bruxa do 71” a morrer encalhada, ele surtou! Desistiu da missão, entrou rapidamente em contato com sua base, há alguns anos luz de distância e pediu: TIREM-ME DAQUI!
E assim, dessa maneira melancólica, terminou a missão, que deveria ter durado muitas e muitas gerações, séculos até, que poderia promover um intercâmbio entre nós e esses visitantes alienígenas, nos proporcionando novas experiências, evolução em vários aspectos. Mas hoje, infelizmente, nosso amiguinho está longe, até um pouco triste, decepcionado, por ter convivido em um mundo que tinha tudo para avançar intelecutal, cultural e tecnologicamente, com o apoio de sua raça, mas que agora na verdade, está “universalmente” com o filme queimado.
Não deixe de ver essa história em forma de música, em nosso canal do YouTube: