domingo, 22 de março de 2015

BAIXARIA PLANALTINA - QUEM SERÁ O MENOS HIPÓCRITA?

No último dia 18/03/2015, presenciamos um fato ironicamente lamentável, ocorrido na Câmara dos Deputados em Brasília. A discussão entre Cid Gomes, até aquela data Ministro da Educação, com os deputados federais, frente ao seu pronunciamento na casa, não temos como classificar de outra forma que não seja uma baixaria.
Naquela oportunidade, Cid Gomes compareceu a casa para se explicar por conta de uma declaração dada no último dia 27/02/2015, durante palestra a estudantes da Universidade Federal do Pará. Na ocasião, afirmou que a Casa tem de 300 a 400 parlamentares que "achacam". Disse Cid Gomes: "Eles (deputados federais) querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas", disse o ministro em Belém. O fato deixou os membro da Câmara dos Deputados indignados e todos exigiram a presença de Cid Gomes para esclarecer suas palavras.
Pois bem, Cid Gomes compareceu. E no início, até deu a impressão que iria se retratar com todos. Porém, seu discurso retomou a agressividade e foi mais contundente do que a declaração anterior, objeto da indignação dos deputados. Cid não só manteve o que disse, embora suas primeiras palavras tenham sido de desculpas, como também afirmou que, os deputados que fazem parte da situação, devem assumir postura de situação, do contrário deveriam "largar o osso" e partir para a oposição. Aí começou a baixaria.
Os deputados se acaloraram e um grande "bate-boca" teve início. Enquanto uns pediam respeito, Cid Gomes continuava atacando. Mais uma vez chamou todos de achacadores e, em uma discussão direcionada com o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, chegou a dizer que prefere ser acusado pelo mesmo de "mal educado", do que ser acusado de "achacar" empresas, em uma clara referência a presença do nome de Cunha na lista do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, entregue ao STF, como suspeito de participação nos esquemas de corrupção na PETROBRÁS.  
Durante a discussão, tanto deputados de situação quanto de oposição atacaram a postura de Gomes. O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), afirmou que o ministro “perdeu a condição de exercer o cargo”. “Cobraremos ao governo que diga se permite e orienta os ministros a desrespeitar o Parlamento. Não reconheço a autoridade de vossa excelência para criticar o Parlamento”, declarou. O líder do DEM, Mendonça Filho (PE), criticou o ministro por não ter feito um pedido desculpas. “Ele reiterou e disse, em alto e bom som, que esta Casa tem 400 achacadores. O ministro fez uma ressalva com relação à atuação da oposição, o que leva a crer que (...) os achacadores são os 400 deputados da base governista”, disse. Ele cobrou ainda que a presidente Dilma Rousseff diga se “referenda” o que afirmou o ministro da Educação no plenário da Câmara. “Fico pasmo com a capacidade do governo de produzir crises, embaraços, situações vexatórias”, declarou. Para o deputado da oposição, a fala de Cid Gomes “desmoraliza” o Congresso e demonstra que o governo Dilma é capaz de produzir “uma crise por dia”. “Tenho vergonha de assistir uma sessão que coloca o parlamento literalmente no chão.”
O líder do Solidariedade, Arthur Oliveira Maia (BA), classificou a declaração de Cid Gomes de “destemperada” e criticou a “agressão” do ministro ao presidente da Câmara e pediu a ele que renuncie. “Sou obrigado a dizer que vossa excelência respondeu a essa indagação dizendo que os 300 ou 400 achacadores se encontram na base governista, e não na oposição. Estão na base governista que elegeu a presidente Dilma", disse. Para o deputado, Cid Gomes tem de renunciar. “Ou então a única alternativa que resta à presidente Dilma é lhe demitir sumariamente”, afirmou. Ou seja, quase assumiu o papel de presidente da república para demitir o ministro.
O líder do PSC, André Moura (SE), também pediu a saída do ministro do cargo e disse que o governador usou recursos públicos para viajar pela Europa. “O ministro perdeu a condição de ser ministro. E eu pergunto aqui ao plenário. Achacadores dos recursos públicos somos nós ou achacador é quem, como governador do Ceará, alugou jato particular para viajar por toda a Europa com recursos pagos pelo povo do Ceará? E ainda levou a sogra a tiracolo?” Irritado, Moura elevou o tom e disse que o ministro era “desqualificado” e não tinha “dignidade” nem “moral” para continuar no cargo. Cid Gomes reagiu e disse que quem não tinha moral era o deputado. O bate-boca seguiu e Moura afirmou que o ministro “envergonha o estado do Ceará”. A discussão chegou a tal ponto que Eduardo Cunha chegou pediu para cortar o microfone de Cid Gomes, dizendo que o mesmo nem parlamentar era para ter direito de palavra na casa, quanto mais de tamanha agressividade.
Bom camaradas, o que podemos tirar de conclusão de tudo isso? Apenas mais uma pergunta: QUEM SERÁ O MENOS HIPÓCRITA? De um lado, vemos um ex-governador de um estado (Ceará), que dentre outras coisas, além da já citada viagem a Europa em um jato pago pelo dinheiro público, também pagou, com o mesmo dinheiro público, R$600.000,00 de cachê para um show de Ivete Sangalo, em uma suposta inauguração de um hospital que na verdade ainda não estava com suas obras concluídas. Do outro, vemos uma Câmara de Deputados, onde diversos de seus membros, de diversos partidos, inclusive seu presidente, estão envolvidos em um dos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil. Chega a ser irônico, quase uma piada, ver Eduardo Cunha anunciar que a Câmara dos Deputados irá processar Cid Gomes, por conta de suas declarações caluniosas e difamatórias. Que moral tem eles para isso?
Enfim, o resultado todos já sabem. Cid Gomes já é ex-ministro da educação, pois logo depois da confusão pediu demissão do cargo. E um fato interessante sobre essa demissão: do plenário, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, chegou a anunciar a demissão antes mesmo de ter sido oficializada. "Comunico à Casa o comunicado que recebi do chefe da Casa Civil (ministro Aloizio Mercadante) comunicando a demissão do ministro da Educação, Cid Gomes", anunciou Cunha no plenário. Vejam como são as coisas. Isso é ético? Isso é moral?
Mais uma vez, camaradas, vemos como estamos desprovidos de esperança em todas as vertentes políticas que participam, de um jeito ou de outro, do estado brasileiro. Tanto nosso legislativo, quanto nosso executivo, apresentam desvios de ética e caráter tais que, a cada declaração, a cada evento, ficamos mais e mais longe de um horizonte que nos traga perspectivas de mudanças de rumo, mudanças positivas, que façam com que nosso país finalmente se livre da corrupção, dos desmandos e dos verdadeiros "achaques".

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